09/03/14

A História e a Lenda do Zé do Telhado

O lendário Zé do Telhado nasceu como José Teixeira da Silva, no lugar do Telhado, de Castelões de Recezinhos, no Distrito do Porto em 22 de Junho de 1818.


Foi um herói condecorado de várias guerras e revoltas, que por força da fome e pobreza extrema, se tornou salteador e líder do famoso bando "Boca Negra" que actuava em todo o Norte de Portugal.

Enquanto militar, há registos e relatos da sua bravura e valentia sem igual, tendo sido condecorado com a medalha de Torre e Espada (que ainda hoje podemos ver nos brasões mais antigos da nossa invicta e muy nobre cidade), a mais alta condecoração militar portuguesa, por actos heróicos nas fileiras do General Sá da Bandeira, que salvou da morte duas vezes.

Sempre do lado das tropas e movimento liberal, herança do saudoso Rei D. Pedro IV, contra os absolutistas de D. Miguel ainda vivo no exílio, Zé do Telhado deu fielmente o seu contributo em sangue nos campos de batalha de todo o País.

Em tempo de paz, casou à revelia do Tio (um antigo soldado francês que por cá ficou aquando das invasões napoleónicas nos começos do século XIX), com sua prima e filha do mesmo, Ana de Campos Lentine, que morava no lugar de Sobreira, da freguesia de Caíde de Rei e de que dele teve um filho.

Este tio francês era comerciante e castrador de gado e desde cedo ensinou o ofício ao sobrinho, mas Zé do Telhado cedo percebeu, que aquela vida rotineira, não era para ele, pois existia na sua família uma antiga tradição militar e miliciana muito forte, e extremamente enraizada. O seu tio-avô e o seu pai tinham sido soldados e posteriormente quadrilheiros, assim como o seu irmão mais velho.

Diz a História e reza a Lenda que ao regressar da guerra, se deparou com a mulher e filho pequeno, em extrema situação de pobreza. Após ter procurado trabalho e ajuda, que lhe foi negada em virtude dos seus ideais liberais, Zé do Telhado, herói esquecido, foi forçado a procurar uma vida de crime para matar a sua fome e dos seus e combater a injustiça absolutista. Estes ideais ainda estavam enraizados na sua terra em ricos saudosistas e abastados colaboracionistas de D. Miguel, ainda vivo no exílio.

Recrutado pelo Boca Negra (líder do bando de quadrilheiros mais sanguinário de Portugal, com o mesmo nome), para uma vida de salteador, Zé do Telhado depressa se tornou líder da quadrilha e lenda entre gentes de bem e bandidos. Diz a lenda que assim que se tornou líder do bando, implementou regras morais rígidas que puniam com a morte e impediam qualquer um dos seus homens de roubar aos pobres ou maltratar mulheres e inocentes. Chegaram mesmo a ser encontrados documentos escritos pela sua mão onde se estabelecia que a 10ª parte do saque seria sempre entregue aos pobres e desfavorecidos.

Muitas foram as aventuras do Zé em todo o Norte do País, entre Alto Minho, Porto e Trás-os-Montes, o Herói Bandido ajudava e defendia os pobres e atormentava os ricos. Foi preso várias vezes e libertado por exigência pública, tendo-se tornado amigo íntimo de Camilo de Castelo Branco durante a sua estadia na Cadeia da Relação do Porto, que por força das circunstâncias se tornara uma segunda casa.

Traído covardemente na sua última incursão por um dos seus homens conhecido por João Pequeno, que desde sempre lhe invejou a fama e cobiçou o lugar, foi finalmente capturado e julgado pela sua vida de crime, sendo no entanto poupado do cadafalso pela sua reputação e bravura na guerra.

Degredado para África como era costume na altura, regenerou-se e tornou-se num abastado comerciante, que ficou conhecido por continuar a ajudar os pobres, nunca esquecendo os seus ideais e as suas humildes origens.

Viria a falecer em 1875, longe do seu Norte amado, exilado em Angola, onde ainda hoje é recordado e lhe prestam homenagem pelos seus feitos naquele território.

A lenda do Herói Bandido, ainda hoje continua viva na tradição e na memória das gentes do Norte de Portugal que ainda cantam e recordam as suas valorosas façanhas.

Na lenda do Zé do Telhado, encontramos os ideais e as convicções de uma terra e de um povo que em tempos difíceis se recusa a baixar os braços. Um povo que nunca perdendo o Norte, luta contra a opressão, a injustiça, a pobreza e a má sorte.


O Zé do Telhado és tu, sou eu, somos todos nós os que contam e recontam sua história. Somos todos aqueles que lutamos para manter viva a sua Lenda e perpetuar a sua memória...


Fonte:
fotografia do zé - http://photos1.blogger.com/blogger/6076/1347/400/foto1.0.jpg