24/10/09

"Jogo Limpo - pela ética desportiva"

Nota prévia:
No final da composição deste texto e que demorou mais de três horas a elaborar (devido a alguma consulta que tive de efectuar) fico pois na duvida se haverá alguém com disposição para o ler integralmente. Sugiro que a leitura não seja feita de “forma atravessada” do texto para que não hajam más interpretações e deturpações do que realmente escrevi e do que pretendo demonstrar.
.
.
.
Numa iniciativa da A.C.M. e que contou com o apoio dos senhores Artur Lopes e Luís Horta respectivamente Presidentes da U.V.P./F.P.C. e da Autoridade Antidopagem de Portugal foi ontem, por intermédio de uma conferencia de imprensa apresentado um manifesto designado como “Jogo Limpo – pela ética desportiva”. O “Manifesto” pode ser consultado integralmente e subscrito no sitio na Internet da ACM.

Não sou nem nunca fui apologista do uso de substâncias ilícitas no desportoque fique bem claro, assim como não se pode confundir a amizade com a reprovação e como sou católico, aproveito para relembrar a parábola do “filho pródigo”.

Globalmente estou de acordo com o “Manifesto” embora me pareça que a sua aplicabilidade seja utópica e na minha opinião são vários os motivos que fundamentam a minha opinião sobre a utopia da sua aplicabilidade.

Uma coisa é certa, algo tem que ser feito pois as coisas como estão estão muito mal e pior fica quando somos confrontados com situações de doping nos Cadetes e Juniores não há nada que possa justiçar o que quer que seja.

A ACM, como é hábito – pena que as outras associações não sigam as suas pisadas (mas sobre isto não tenho legitimidade para falar peso embora o trabalho por mim produzido na ACP), uma vez mais, volta a ser pioneira e a “ficar bem na fotografia” mas sei e como penso conhecer os seus dirigentes (e em particular o seu actual Presidente) que este “Manifesto” não se destina só para a fotografia, é realmente uma coisa sentida e que desde já aproveito para publicamente endereçar as minhas felicitações públicas pelo acto. Obviamente que como disse nem tudo me parece estar correcto nesta iniciativa pela dificuldade da transparência da aplicabilidade, mas mais importante do que tudo foi que foi dado um passo para que se tente minimizar algo de extremamente prejudicial ao desporto e á sua imagem.

Serão vários os princípios e leis com a qual a aplicabilidade do “Manifesto” me parece se vá “esbarrar”, mas não sendo eu um jurista a minha opinião vale o que vale, ou seja, é a minha opinião!

Analisemos então o “Manifesto” ponto por ponto.

“1º) Reafirmar os princípios e valores do desporto, nomeadamente, a ética, a honestidade, o espírito e a verdade desportiva e considerar a luta contra o doping como um pilar fundamental na sua preservação.”

Cem por cento de acordo.

“2º) Assumir quotidianamente uma conduta de "tolerância zero" em relação a qualquer indício, intenção ou prática de dopagem, desaconselhando e denunciando casos e situações que indiciem práticas violadoras das normas e disposições.”

Cem por cento de acordo em relação à “tolerância zero” contudo em relação à “denuncia” pois faz-me lembrar a Pide/Dge e pode levar a exageros e que muitos aproveitarão para tentar obter protagonismo denunciado quem sabe até “inventando” possíveis situações e estou por exemplo a lembrar-me do ponto 1º do artigo 25º da Constituição da Republica Portuguesa.

“3º) Desejar a aplicabilidade imediata e rigorosa do Regime Jurídico da luta contra a dopagem no desporto (Lei n.º 27/2009 de 19 de Junho).”

Cem por cento de acordo e ainda por cima trata-se de uma lei da Republica.

“4º) Incentivar os agentes e entidades desportivas a retomarem o projecto de criação do passaporte biológico, encarando-o como indispensável na luta contra o doping.”

Cem por cento de acordo se for consagrado a todas as modalidades desportivas e a todos os escalões. O Ciclismo não pode continuar a ser o “patinho feio” do desporto.

Há também que garantir a transparência do método e a equidade do processo.

“5º) Aconselhar todas as entidades a contemplarem em todos os acordos/contratos com e entre equipas e atletas cláusulas de rescisão e de penalização no caso de utilização de substâncias e métodos proibidos.”

Cem por cento de acordo se as Leis vigentes de trabalho o permitirem.

“6º) Instar as entidades competentes a agirem judicialmente contra os prevaricadores em matéria de dopagem, visando o ressarcimento pelos prejuízos e danos causados ao desporto em geral e a cada uma das modalidades em particular por comprovada conduta desviante.”

Este ponto, salvo melhor opinião, parece-me cem por cento utópico pela impossibilidade da sua aplicabilidade pelo que sou manifestamente contra.

Pergunto,

…e como se pode quantificar os prejuízos causados?

Muita atenção que medir este género de prejuízo não é a mesma coisa que é medir o retorno de um determinado investimento publicitário.

Tomemos como exemplo os seguintes dois casos, ou seja “Nuno Ribeiro – profissional e vencedor da Volta a Portugal” e “João Pinto – cadete e vencedor da Volta Portugal Cadetes” .

Nuno Ribeiro” – conseguiu-se quantificar um prejuízo de dois milhões de euros, acham que ele tem esse dinheiro para restituir o prejuízo causado?
João Pinto” – é um Cadete e é menor de idade. Neste caso a verba quantificada foi de quinhentos mil euros, quem é que tem que pagar esta verba? O encarregado de educação? E se posteriormente se vier provar que o miúdo até estava inocente e que lhe deram as substâncias sem ele e o seu encarregado de educação saberem o que era?

Esta medida parece-me perversa, pois além de toda a subjectividade inerente e que tentei enumerar podem por exemplo surgir milhentas pessoas a dizer que por causa do caso X ou Y perderam um patrocinador sem sequer terem saído de casa e verem nisto uma forma fácil de ganhar dinheiro.

“7º) Sugerir o aperfeiçoamento da eficácia dos métodos e processos de certificação de violação das normas antidopagem de forma a não subsistirem dúvidas e a eliminar possibilidades de invocação de questões meramente processuais para ilibar os prevaricadores.”

Salvo melhor opinião mais uma utopia.
Vou dividir este ponto em duas partes, ou seja, a primeira relacionada com os “métodos” e a segunda com os “questões processuais”.

Em relação aos “métodos”, pergunto, não é essa já uma das obrigações de quem tem que fazer os controlos de despistagem de substancias consideradas dopantes? Claro que é – digo eu.

Em relação ás “questões processuais”, parece-me que uma vez mais não se quer entre outras coisas respeitar coisas básicas. Estou novamente a lembrar-me por exemplo da Constituição da Republica Portuguesa do seu artigo 21º, também ponto 2º do artigo 26º e ainda também de forma global o artigo 32º.
Se há (ou houveram) responsáveis por erros processuais então está aqui uma boa oportunidade de aplicar o ponto 6º do “Manifesto”, ou seja, ressarcir-se junto desses responsáveis pelos danos causados e também aqui não nos podemos esquecer do Artigo 22º da Constituição da Republica Portuguesa.

“8º) Sugerir a realização de uma campanha nacional, direccionada aos diversos escalões etários e sectores sociais, que alerte para os malefícios do doping e enalteça os princípios e valores do desporto.”

Cem por cento de acordo.

…e porque não aproveitar este “Manifesto”, para se realizar um outro “Manifesto”, em que nas provas velocipédicas se cumpram escrupulosamente todos os Regulamentos e Cadernos de Encargos previstos e que a U.V.P/F.P.C. enquanto entidade organizadora e reguladora da modalidade dê o exemplo?

A titulo de exemplo:
- Pagamento dos prémios em tempo útil aos corredores (todos sabemos que há inúmeras provas que nunca pagaram os prémios monetários previstos e obrigatórios pelo Caderno de Obrigações Financeiras da Federação aos corredores).
- Serem cumpridas todas as disposições de segurança previstas.
- Haver sempre um médico na prova.
- Haver meios de socorro adequados.
- Haver policiamento móvel e apeado adequado.
- Parque automóvel adequado quer da parte da organização que da parte das equipas.

Em resumo, basta aplicar os regulamentos existentes na sua plenitude para que tudo seja devidamente cumprido.

Mas voltando ao "Manifesto" e como resumo final.

A sensação com que fiquei quando li este “Manifesto” é que os corredores foram transformados em “monstros” e com são os únicos culpados pela existência do uso de substâncias dopantes no Ciclismo.

Contudo e com disse no inicio felicito a A.C.M. na pessoa do seu Presidente José Luís Ribeiro pela iniciativa.

5 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado, Paulão.
Tu e a Senhora que te auxiliou na redacção do texto (desculpa, mas tinha que o dizer) não devem assinar o manifesto.
A iniciativa também pretende isso: separar as águas e saber quem está e de que lado.

Paulo Sousa disse...

Caro José Luís Ribeiro,

Lamento a tua aparente falta de discernimento, provavelmente deve ser do cansaço e algum sono á mistura (digo eu não sei)…

Lamento também que escrevas o que não sabes, ou seja, nenhuma senhora me ajudou a escrever o texto, aliás a senhora a que provavelmente te estarás a referir (Dr.ª Sónia Mendes – Directora Financeira da ACP e que por incompatibilidade com os restantes membros de direcção renunciou ás função em Julho) neste momento ainda nem tem conhecimento do texto. Será por citar a Constituição da Republica Portuguesa? Mesmo não sendo Comunista (nada tenho contra o PCP) relembro-te que estou ligado ao sindicalismo há quase vinte anos…

Lamento também que ao fim destes anos todos ainda não me (re)conheças as capacidades, mas quanto a isso nada posso fazer.

Tal como te disse ontem pelo telefone saúde a vossa iniciativa e mantenho tudo o que disse.

Apesar de saber perfeitamente que não foi essa a intenção posso também dizer que este “Manifesto” não passa de uma tentativa de aproximação da ACM à UVP para que provavelmente possa daí acolher benefícios da Federação, mas não o digo porque sei que não foi com essa intenção que o fizeste pois sei bem qual a tua posição sobre o Doping.

Zé, não vale a pena estar-mos a trocar “mimos” pois as nossas opiniões são o que são e não as vamos mudar.

Mas sobre o doping a ACM tem que ter cuidado pois é provável que tenha “telhados de vidro”, não durante o teu mandato, mas ainda muito recentemente...

Como também sabes os “inimigos” do nosso Ciclismo não são só os corredores que utilizam substancias consideradas como dopantes.

Quando afirmas que o “Manifesto” serve também para e passo a citar “separar as águas e saber quem está e de que lado” nada de mais errado, pois eu não subscrevo o manifesto e assim como tu sou contra o uso de substancias dopantes no desporto. Agora, não vejo é as coisas de um só prisma e tento colocar-me sempre nos dois lados da questão. Porque é que só se viram sempre contra os corredores? Será por serem o elo mais fraco?

Querem acabar com o doping? É fácil. Aumentem o tempo de castigo pelo uso de substâncias proibidas e penalizem também com o mesmo tempo de suspensão da actividade velocipédica o Director Desportivo e o Treinador e vais ver que o doping acaba.

Ter coragem para dizer e/ou escrever isto ninguém tem pois vai contra os supostos “poderes instalados”. Tu assim como eu conheces bem a realidade do nosso ciclismo.

Mas Zé, com a nova versão dos Estatutos da Federação se o Presidente quiser pode faze-lo simplesmente e sem dar ouvidos a ninguém.

Zé, fico-me por aqui.
Para terminar,

Lamento a tua afirmação de ter recorrido a “Senhora que te auxiliou na redacção do texto” mas e se fosse verdade, qual o problema? Haveria alguma ilegitimidade nisso?

E já agora aproveito para te questionar, o que é que sabes “da Senhora” para dizeres que ela não deve assinar o manifesto? Ou acaso falas-te com ela alguma vez? Ou será que te estás a deixar influenciar por terceiros?


Zé, um abraço…

Anónimo disse...

Paulo,

Termino esta troca de opiniões, chamando-te a atenção para o seguinte: o manifesto não fala, em nenhum momento, de ciclismo nem de corredores.

1Abr,

Paulo Sousa disse...

Pois não Zé tens razão, não fala nem de Ciclismo nem de corredores.

Por isso é que a iniciativa foi de uma associação regional de ciclismo e que a federação desportiva que esteve presente foi a de ciclismo e que por coincidência também foi numa exposição de ciclismo que a mesma foi efectuada, pelo que tenho que te dar razão, não fala de ciclismo.

Sabes, salvo melhor opinião, as entrelinhas são mais do que evidentes.

Por isso vamos ter “as gentes” do futebol a falar do atletismo, as do atletismo a falar de hóquei, etc., etc., etc.….

Não conhecendo a realidade das outras modalidades desportivas a solução que eu dei na mensagem anterior para acabar com o doping também se pode aplicar a todas as modalidades desportivas.

Por mim posso também dar por encerrada e troca de opiniões.

Um abraço,

mzmadeira disse...

Assino por baixo.

Concordo com tudo o que escreves Paulo. Tudo... e devo sublinhar este tudo.

Manuel José Madeira