20/11/08

Ciclismo...

A exemplo do meu texto anterior transcrevo, por achar pertinente e actual um trabalho efectuado pelo João Santos e José Carlos Gomes, publicado no Jornal Ciclismo em 24 de Outubro de 2008 e que pode ser consultado em http://jornalciclismo.com/?p=210.

O facto de o transcrever não quer dizer que esteja plenamente de acordo com o texto, embora nalguns casos esteja em sintonia com o Prof. José Santos.


“Mesmo que tenha divergido de Artur Lopes no passado, José Santos elogia o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, considerando que o líder federativo prestigia o ciclismo português. Mais dúvidas merece a equipa de trabalho que acompanha Lopes, com duas excepções, também alvo de palavras de apoio: Delmino Pereira e Francisco Manuel Fernandes. José Santos propõe a substituição das associações por delegações federativas, dotadas de meios humanos capazes de colocarem em prática as políticas definidas a nível central.
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O actual presidente da Federação está há 16 anos no cargo e foi eleito para mais um mandato. Pode fazer-se um balanço linear destes anos todos?
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Não há alguma alternativa ao actual presidente. Ele é um elemento muito forte dentro de uma direcção muito fraca. Tem um bom presidente-adjunto, Delmino Pereira, e uma pasta financeira, Francisco Manuel Fernandes, bem gerida. Mas só o poder do presidente nem sempre é suficiente, só o seu valor prestigia a equipa directiva. Embora eu lhe aponte alguns erros e críticas, como a retirada da Volta ao JN.
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O panorama a nível associativo é menos risonho?
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As associações têm um papel altamente secundário. Acho até que seria mais proveitoso para a modalidade que as associações fossem substituídas por delegações da Federação Portuguesa de Ciclismo. Passava a haver uma política nacional aplicada em cada local. Um erro da actual Federação é ter muitos técnicos em Lisboa, não os distribuindo pelas associações regionais. Há um que conheço, o Luís Teixeira no Minho e é por isso que essa associação funciona melhor do que quase todas as outras juntas. A associação do Algarve, fruto essencialmente do trabalho de dois dirigentes, também é muito boa. De resto…
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O ciclismo jovem tem estado a ser bem gerido?
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Havia muito mais praticantes quando tínhamos o Movimento Juvenil de Ciclismo do Norte, mas os tempos eram outros.
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Um dos problemas da modalidade é haver poucos novos praticantes e, grande parte, vir já de famílias ligadas ao ciclismo.
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Há poucos praticantes novos porque não há equipas. No Boavista recebemos uma média de meia dúzia de telefonemas por mês de familiares de jovens que querem iniciar a prática de ciclismo e não sabem onde fazê-lo. Não havendo clubes não pode haver ciclistas. Por isso há muitos praticantes de BTT, porque a burocracia é menor e não existe a necessidade do clube. Na estrada, há demasiada burocracia. Por exemplo, era importante que a determinada altura da época os juniores de segundo ano pudessem competir com os sub-23, da mesma forma que estes competem com os profissionais. Irrita-me quando me dizem: “A UCI diz que é assim”. E rio-me quando vejo as multas das provas nacionais em francos suíços. É um exemplo que demonstra a total dependência em relação à UCI.
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A escassez de clubes tem a ver com os custos elevados do ciclismo face a outras modalidades?
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Também. Mas um aspecto a ter em conta é a falta de massa crítica para se desenvolverem projectos de raiz. Talvez a actual geração de corredores venha a ter essa capacidade, mas entretanto o que fomos assistindo foi a antigos corredores que terminam a carreira e querem logo implementar projectos megalómanos. Isso não pode ser. O caso do Benfica é um desses. Não está de acordo com a realidade nacional.
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Em que medida?
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Inflacionou o mercado de sub-23, destruindo o trabalho feito pelas equipas desse escalão. Também inflacionou o mercado profissional. E agora abandona ou reformula-se, não tendo uma política de continuidade.
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Mesmo assim valeu a pena este regresso?
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Penso que não. Criou expectativas que saíram goradas e inflacionou o mercado para valores que as outras equipas não estavam preparadas.
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O ciclismo vive acima das suas possibilidades?
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Sim, mas nem é tanto a nível das equipas. É mais ao nível da organização das provas. Uma corrida internacional custa quase tanto como formar uma equipa para o ano inteiro. Não temos dimensão para tantas provas internacionais. A actual situação é quase como a de um indivíduo que se desloque de Porsche, mas que não tenha dinheiro para a gasolina. Depois as dificuldades são grandes para pagar os prémios. Se a Volta ao Alentejo, por exemplo, fosse nacional, o orçamento chegava para fazer uma volta ao Baixo Alentejo e outra ao Alto Alentejo. E isso seria preferível para o ciclismo.
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O futuro do ciclismo passa pelo BTT ou a estrada ainda tem muito que dar?
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A estrada tem futuro, mas é preciso inovar. Não é uma tarefa fácil, mas é preciso dar a volta. Não podemos, por exemplo, continuar presos aos ditames da UCI. A média das edições todas da Volta a Portugal é de 16 dias. Não podemos fazer uma Volta só com 11 dias. Se baixarmos de escalão podemos ter 15 dias. Cada dia ganho é mais importante, porque permite levar a prova a mais localidades e cada dia a mais significa maior rentabilização do investimento dos patrocinadores. Num país com a dimensão do nosso, 11 dias é escasso. Isto não é a Bélgica ou o Luxemburgo.”

Em relação ao comentário efectuado pelo Prof. José Santos sobre as associações de ciclismo, mesmo não gostando, sou obrigado a concordar com ele e exemplo disso é o marasmo que tem sido a A. C. Porto nos últimos anos. De referir também o bom exemplo da A. C. Minho com o trabalho efectuado pelo Luís Teixeira que recordo está a tempo inteiro da associação pelo que seria um bom exemplo a seguir pelas associações e devidamente apoiado pela U.V.P./F.P.C.

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